Correspondências Cariocas

 

Projeto vencedor do edital Cultura Presente!, apresenta a cidade do Rio de Janeiro através de depoimentos, em forma de desenhos e textos, de 45 crianças que vivem no Conjunto de Favelas da Maré.

 
 
 

Para as celebrações dos 450 anos da Cidade do Rio de Janeiro, em 2015, foram realizadas oficinas de azulejaria para a produção de um painel artístico composto por mais de 1.000 azulejos.

 
 
 

Os azulejos contam histórias e aspectos interessantes e curiosos da cidade do Rio, tendo como base obras da literatura, da poesia e da música, inspirados na paisagem e nas personagens da cidade e, sobretudo, nas vivências de cada participante. 

 
 
 

As Oficinas

Artistas, ilustradores, fotógrafos, designers e poetas, além de estudantes e artistas voluntários, uniram-se à equipe da Azulejaria para enriquecer a experiência e apoiar os alunos na expressão de suas manifestações artísticas.

Recebemos o historiador Guto Nobre, que nos contou a história da cidade de forma ilustrada e apaixonada, através de visitas guiadas; o artista João Rivera, com oficinas bem humoradas de papel-machê inspirados na fauna e na flora carioca; a fotógrafa Tatiana Altberg e seu projeto Mão na Lata, nascido também na Maré, oferecendo um olhar poético para as nossas casas e espaços de vida; o artista português António Jorge Gonçalves, apresentando seu trabalho de ilustração e texto, através de seus livros e seu processo criativo; o coletivo Norte Comum com oficinas de narrativas; os poetas Pedro Rocha e Amora Pêra e as palavras que se encantaram com a nossa cidade e que nos encantam até hoje.

Contamos também com alguns visitantes, entre eles Aceu, indígena que veio à Maré nos apresentar o Una Isi Kayawa – Livro da cura, um livro pioneiro, que reúne o profundo conhecimento das plantas e as práticas medicinais do povo indígena Huni Kuin, também conhecido como Kaxinawa, maior população indígena que habita a região do Rio Jordão, no Acre. O encontro foi na Biblioteca Lima Barreto da Redes da Maré, reunindo crianças e jovens do bairro, além dos nossos alunos.

Em sala de aula construímos uma linha do tempo a partir do ano de 1502, quando os portugueses entraram na Baía de Guanabara pela primeira vez. Ao longo do processo, os alunos criaram uma linha anterior a 1502, com desenhos dos povos originários da baía. Afinal, como disse o aluno José Pedro, ‘antes dos brasileiros, aqui já existiam os índios’.

Centenas de azulejos foram desenhados e selecionados para a construção do painel - e alguns deles transformaram-se em cartões-postais.

 
 

Os Cartões-postais

Uma quantidade infinita de informação sobre a cidade do Rio pode ser acessada de qualquer parte do mundo. Mas que cidade é essa?  É a cidade do Gabriel, da Samara, da Brenda, do Leandro, da Rayane, da Júlia. O que diferencia da cidade do Gore, da Hannah, da Dilan, do Solal, do Basile, do Arthur, do Pablo ou da Erendira? Onde moram essas pessoas? O que elas fazem e o que elas gostam de fazer? Elas conhecem o Rio? Qual Rio?

Cartões-postais com fotografias e paisagens, desenhos e reproduções de obras de arte sempre foram usados como referência em nossas oficinas. Os alunos no entanto não sabiam para o que mais serviam. Todos sabiam porém que em dois clicks e em poucos segundos podemos fotografar, gravar, escrever e enviar qualquer coisa para qualquer pessoa, em qualquer lugar do planeta e receber uma resposta instantaneamente.

Nas oficinas, cada aluno apontou um pontinho no globo, escolheu uma cidade que pelas mais variadas e divertidas razões gostaria de conhecer. Escolheram então os seus azulejos preferidos - nos quais estava contida parte da cidade sensível de cada um - que foram transformados em cartão-postal de verdade. Tudo o que gostariam de dizer, de si, de seu bairro e cidade, tudo deveria caber ali, em português, espanhol, inglês ou francês.
Um processo muito bonito.

A última aula do ano foi na sede dos Correiros da Rua 1º de Março, dia da fundação da cidade, para o envio dos cartões.

 
 
 

As respostas foram chegando em uma caixa postal da Azulejaria. A Maré era considerada pelos Correios como uma 'zona de conflito', o que não garantia a entrega de postagens nas residências do bairro. Argentina, México, Portugal, Inglaterra, França, Espanha, Turquia, EUA e até a Tanzânia, na Austrália… os cartões ganharam o mundo. A cidade das crianças está em toda parte, transcendendo o projeto e a Maré, ampliando sua abrangência territorial, fazendo novas conexões e se perpetuando no tempo.

 

O Painel

O painel reveste uma casa inteira do bairro, a casa da dona Severina. Os azulejos traçam um panorama do que é a nossa cidade hoje. Quem somos? Onde vivemos? A cidade conhecendo a si própria e se revelando a partir do olhar, da análise crítica e das belas propostas oferecidas pelas crianças e jovens da Maré. 

Aos azulejos desenhados, juntaram-se as frases que foram extraídas das mensagens inscritas pelas crianças nos cartões postais, e novos azulejos foram pintados pelos artistas do projeto para a composição final da obra.

 

Este painel é uma obra de arte coletiva, produzida pelos alunos do curso de azulejaria da Redes da Mare, para as celebrações dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, através do edital Cultura Presente! / Secretaria Municipal de Cultura.

Participaram 45 alunos, entre 7 e 15 anos de idade. O projeto, idealizado e coordenado por Laura Taves, com as educadoras Márcia Queiroz e Luciene Vieira, se desenvolveu através de oficinas semanais na sala de artes da Redes da Maré e contou com vários convidados ao longo de 1 ano.

Idealização e coordenação
Laura Taves com a colaboração de Isabella Porto

Oficinas e mobilização
Márcia Queiroz e Luciene de Andrade

Composição arte do painel
Laura Taves, João Rivera e Paula Delecave

Produção ateliê
Lucia Rodrigues e Márcia Queiroz

Obra
Mestre Carlos Miranda

Oficineiros, poetas, escritores e artistas convidados
Guto Nobre, Joao Rivera, Tatiana Altberg, Antonio Jorge Gon;calves, Amora Pera, Pedro Rocha, Isarewe Huni-Kuin, Norte Comum: Alice Nin, JV Santos, Ge Vasconcelos e Pablo Meijueiro.

Agradecimentos
Eliana Sousa e Silva, D. Helena Edir e Maira Gabriel Anhorn.

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